segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Apontamento nr.56

(Millor)

Vade-mécum da CPI
P. O que é uma CPI?
R. Um Comitê Pra pegar Idiotas.
P. A que se destina uma CPI?
R. A apurar tudo aquilo que deve ser apurado, com calma e sem pré-julgamento, até o dia do esquecimento.
P. Tratando de corrupção nas altas esferas, como funciona uma CPI?
R. Uma CPI só pode ser iniciada a partir de proposta de algum legislador – de preferência em causa própria –, naturalmente da oposição, que no momento não rouba, só acusa.
P. Então, se entendemos bem, já deve haver embutido no Congresso um espermatozóide político pra poder fertilizar o óvulo do Processo.
R. Pois entendeu muito bem. Quando o espermatozóide penetra no óvulo da suspeita generalizada, dá-se a fecundação da CPI.
P. E como age a CPI, nascida, se me permite o termo, desse contubérnio?
R. Convida, ou intima, conforme a importância ou suspeita de culpabilidade das pessoas, as pessoas a vir depor numa comissão.
P. Comissão de quanto?
R. Não entendi.
P. Comissão de quantos?
R. Quantos quiserem, estiverem disponíveis ou forem possuídos de forte curiosidade. CPI sem uma multidão em volta não impressiona ninguém.
P. E se as pessoas intimadas ou convidadas alegarem não poder comparecer a Brasília porque esta é lá longe e elas não têm verbas especiais para voar até lá, o que faz a CPI?
R. Intima, sob vara, no caso de desculpas esfarrapadas.
P. E como se verifica se uma desculpa é esfarrapada ou não?
R. Pelo poder dos convocados. As desculpas dos poderosos são sempre bem vestidas porque dispõem de alfaiates – advogados – competentes. Os destituídos desses alfaiates não conseguem esconder seus remendos. P. Tendo ouvido as pessoas a serem ouvidas, a CPI faz o que com isso?
R. Faz registros, resumo dos depoimentos, ampliação de outros, cópias em várias vias, vias em várias cópias, vazamentos, apuração de vazamentos, xeroxes, falsificação de xeroxes, fofocas, microfilmes, e por aí. Se for necessário acrescenta fotos, junta fitas gravadas clandestinamente com outras gravadas com permissão judicial e, de tudo isso, completa um pacote suficientemente grande para impressionar a Promotoria Pública.
P. E a legislação do país não fica um tanto abandonada, com tantos parlamentares tratando de um processo de 100 cabeças e 1.000 pernas mas inteiramente periférico à função básica do Congresso?
R. Fica.
P. Se todas as corrupções fossem apuradas, haveria parlamentares em número suficiente para a tarefa? E haveria cadeias especiais pra colocar os condenados, sempre com diploma de curso superior?
R. Não.
P. E isso tudo não sai mais caro ao país do que a corrupção propriamente dita?
R. Quase sempre.
P. Então não seria mais sábio institucionalizar a corrupção e botar a honestidade fora da lei?
R. Daria no mesmo. Teríamos que instaurar CPIs para apurar casos de honestidade acima de qualquer suspeita. Sabe como é a natureza humana.

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