São 05h30 da manha. Levanto-me, com uma crise de asma. Dirijo-me à casa de banho, para o uso da minha bomba. Depois de três ou quatro aplicações, tudo volta à normalidade. Entretanto, chego-me à janela e sinto o silêncio da noite. Já tinha perdido o sono. Ocorreu-me então a ideia de ir até Lisboa ver o nascer do sol.
Dirijo-me ao frigorifico e tiro um iogurte liquido, não esquecendo, claro está um livro para me acompanhar. Visto-me num ápice, desço a escada do meu prédio e encontro pelo caminho com um vizinho, que parecia estar a chegar. Meto me no carro. As ruas estão desertas mas eu já tenho para onde ir… Belém.
Sigo pela auto estrada, rezo um pai nosso e peço a Deus por aquele dia. Ligo o rádio do meu carro e oiço os políticos “deglutiando-se” para saber de quem é a culpa do défice, se é laranja, ou rosa. Irritado, apesar de pertencer a um partido político. A política é partidária, cada vez mais me afasta, mais me cansa. Viro o botão do rádio e coloco o cd do Rodrigo leão, que me traz logo de imediato outra tranquilidade.
Poucos quilómetros rodados e já estou na portagem. A rapariga diz: “Bom Dia, São 60 cêntimos por favor”. Dou-lhe uma nota de cinco euros e recebo um autêntico “batalhão de moedas”, de troco. Pouco mais à frente, estou na ponte 25 de Abril. Cruzo-me com alguns taxistas que deviam ter estado a trabalhar toda a noite. Penso nos sacrifícios que fazem os “homens da noite” para, muitas vezes, servirem outros que trabalham durante o dia. Continuo o meu trajecto a uma velocidade reduzida, em Alcântara, dirigindo-me depois para Belém. O dia começa a clarear, mas o sol ainda não nasceu.
Paro o carro. Em frente ao Padrão dos Descobrimentos, dou uma vista de olhos pelo meu sempre fiel livro. Tive assim durante algum tempo. De repente, o nascer do sol rasga e ilumina toda aquela parte de Lisboa. Recorda-me então que o sol nasce todos os dias e que é como um renovar de oportunidades para sempre melhorarmos, crescermos e corrigirmos o que possamos ter feito de errado no dia anterior, que se foi com a noite escura da madrugada.
No rádio do carro oiço Mafalda Veiga com a música “restolho”… Que na vida há que semear e voltar a colher.
Como é bonita a nossa Lisboa. Encosto-me no banco, fecho os olhos e sinto uma sensação de conforto, um revitalizar de energias e forças capazes de mudar o mundo. Saio do carro e dou um pequeno passeio pela marginal e cruzo-me com um casal que logo pela manhã faz o seu jogging para estar em forma. Uns passos à frente e entro numa pastelaria que me serve uma sandes mista com uma garrafa de chocolate.
Namoro e troco cumplicidades com o rio Tejo. Lisboa acordou. O trânsito começa a crescer. Tenho que picar ponto às nove horas, no meu local de trabalho, do outro lado do rio. Tenho que voltar para o carro, à cidade onde moro. Volto a mexer no rádio e ao som de Mozart medito, reflicto e sinto: como sou feliz.
Na verdade, esta madrugada, tão diferente, fez-me perceber que a felicidade está muitas vezes nos nossos sentimentos, nas nossas particularidades e, para isso, não precisamos de muito apenas querer e sentir.
Cláudio Anaia
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